terça-feira, 25 de novembro de 2008

*

dopar-me-ei
até urubus virarem alhures
ou galinhas virarem amiúdes

a noite

caminhos tortos
das pessoas
que brilham
com qualquer
força

morra morra morra
na masmorra
do esquecimento

esse tipo de escolha
acontece só uma vez

minta minta minta
foi a última
que ouvi

tosquidão total
o agora indo

sinta sinta sinta
a lei dos opostos
e dos extremos

destrua sua casa
por fora e por dentro

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

a tristeza é um doce que comemos quando as coisas não são do jeito que queríamos que fosse...

'estou livre de predadores!'
gritava o pássaro
dentro da arapuca

acordando de madrugada

lembro que haviam dois livros
chorei por não termos lido eles juntos
e voltei a dormir

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

lua cheia novembro 2008


estou deitado no chão olhando as estrelas e a lua. são os móbiles que não tocaremos jamais. ao lado, as folhas de uma árvore projetadas pelo luar na parede são como o mito da caverna. no entanto, eu imagino que ambas são reflexos de nossa percepção.

meus olhos e meu corpo, sou um guardanapo pegando fogo perto do tempo celestial, o tempo da areia virando pedra e virando areia, como ondas do mar.

o alto possui um silêncio tão absoluto que todas as disputas entre as pessoas são irrelevantes, assim como os dramas de toda uma antiguidade e as dores na alma que levaram reis a levantarem castelos, como se houvesse uma forma de tocar a eternidade. se os maias, aztecas e outros povos sábios se acabaram, o que será de mim, que olho o céu e não sei de nada?

estou num ápice numa das voltas da vida, estou percebendo o exato momento da transição, estou podendo viver isso, perceber a guinada que acontece sem interferir no espaço. estou celebrando meu caminho, dando adeus a uma criança de dentro que saiu correndo pra brincar na constelação de escorpião, em pleno novembro.

e mesmo assim eu, ser humano, movo as mãos como se fosse uma planta e maestro das nuvens, acreditando que posso arquitetar o futuro, planejar o movimento das estrelas. movimento as mãos para dar novas formas às nuvens.



*

folhas soltas
risos na madrugada
passa como uma nuvem

todos nós vamos sendo
maiores que o tempo
para além das disputas

vaidades e impérios se acabaram
enquanto tenho a noite como lençol


*

o ego
é um pequeno fa
minto

o chão no
qual eu
piso

num tá nem aí
pro que faço

espera o tempo das espécies

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

praiskeysertudo


as forças da natureza
propiciam novas primaveras
e recompensa quem a controlou e estimulou

nada é totalmente inútil
deve-se estar pronto nessas épocas
para fazer a travessia do rio

sim, tudo muda
e o mal deve ser controlado
mas não pode ser permanentemente eliminado

(paz)


*

o tempo das trevas passou
o solstício de inverno
traz a vitória da luz

após toda decadência
a luz retorna
mas esse movimento não é provocado pela força

e transformar o antigo é fácil
o novo substitui o velho
de acordo com as exigências do tempo

o movimento é cíclico
e completa por si mesmo
este é o sentido do céu e da terra


*

a energia no interior
encontra-se ainda semente
sendo fortalecida pelo repouso
pra não dispersar no devaneio

tudo que está recomeçando
deve ser bem tratado
com suavidade e cuidado
para que o retorno leve ao florescimento

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

estrela cadente

passa no céu
ao lado de prédios insones
atravessa a densidade da noite
com um frio de nuvens chuvosas
nem parece a princípio
assim como nunca parece

domingo, 2 de novembro de 2008

treze cortes

o alvo dos gatos mortos
das lâminas gastas
dos sorrisos falsos
e de gozos entre comerciais de tv

os cortes entre veias cansadas
não obstruem a passagem
de toda aquela sensação do que veio, do que vem

cicarizes se fazem sumir
mas ainda é preciso disfarçar e fingir
não tenho tempo pra explicar
que se uma pessoa não morre, ela segue em frente

e nessa internação eu vou pensando, vou sonhando
com a próxima estação
vou pesando o valor de toda loucura do mundo cão