quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

sonhos (fragmentos de uma coisa contínua que não lembro dos encaixes)

[1] estou num condomínio em que vivi na adolescência. é um lugar curiosamente recorrente nos meus sonhos. tomo uma chuveirada que cai pesada em minha cabeça e em seguida mergulho na piscina. no fundo encontro um cachorro andando. fico embaixo d'água vendo ele, impressionado e ao mesmo tempo pensando que posso desmaiar de tanto ficar submerso.

[2] um desconhecido na rua puxa conversa e me fala que o lugar em que estamos era nos tempos da avó dele um rio, que depois foi encanado para construção da rua. o nome da rua era oswaldo aranha ou graça aranha, não consigo me lembrar, mas é como se fosse perto da praça XV, no centro do Rio.

[3] carro alegórico com trapezista com cordas. olho passando (carnaval?) e imagino que aquela forma de praticar sobre um carro que desfila deve deixar o corpo todo doído, tamanho é o esforço para se manter fazendo as evoluções.

[4] helicóptero transporta um morto, que na ida havia sido levado vivo (não lembro pra onde). o piloto tira onda e dá piruetas no ar, dizendo que ele não reclamará.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

dizer como se pretende
que a realidade
dentro de um re corte
sangre
de acordo com o drink
e correndo na artéria

domingo, 11 de novembro de 2012

no momento em que todos os significados existem apenas no dicionário e vou buscando uma palavra perdida

em meio a letras estraviadas de respostas banguelas, frases esburacadas, paisagem sem discurso nem comentários, de pura existência, de vento nas folhas, de formigas voadoras e canto de pássaros no dialeto do Sol
a água nas nuvens
nos rios e mar
chovendo e nevando,
gelando e transportando
sucos, remédios, condimentos
mistérios

caminho dos peixes
uma poça d'água
refletindo o céu

martim afonso

uns conversam
muitos de cabeça baixa, cochilam
caça-palavras
proa e convés
crianças correm,
velhos e compras.
o distinto senhor
fuma um cigarro
como disfarce de seu peido
aparatos e tecnologias
comunicando e distraindo
o conhecimento
da paisagem existindo
na superfície do pensamento

vibrando em exterioridade
e interioridade assim
pegando sol

carros, barcos, aviões,
bondes, motos, ônibus, caminhões,
ambulâncias, viaturas, rabecões,
trens e bicicletas
sonoridade
de baque surdo
coração na noite
repinicando
o corpo inteiro
esse é o tempo
de aprender
refletir
sobretudo
cada coisa
acontecendo
a humanidade
na paisagem

pela música

que vim entender
a potência da vida
a existência de Deus
meu contato com o mundo
embaixo da ponte
a barca passa
com o sol
à minha direita,
mas todos nós,
girando no espaço
todos em seus lugar
(na transformação da matéria, nuvens)
não temer o que há de vir
o mistério de existir
ir
na voz da paciência
e no silêncio após partir
a dor que ensina
e o conhecimento
que mostra por onde
pode ser a trilha
e a narrativa
o caderno
onde imprimo
o que faço
e o que deixo de fazer
mas
sobre o qual
tenho o ensino de uma substância
na matéria que subjetivo

simplória

os dias de hoje
são para você
os dias de sempre

são para quando
você crescer
quando acontece o momento
a história nunca parece
quando é

tão simplória
como Deus quer

domingo, 14 de outubro de 2012

ainda bem que temos memória
para manter as curvas do caminho
quando a fumaça se dissipa e o fogo apaga

certo dia

quando acordei, quando acordava

domingo, 23 de setembro de 2012

somos esculturas que se movimentam e palpitam por determinado tempo
sabendo o caminho a paisagem muda transformada para além do imprevisto não tocado pelo olhar

sábado, 18 de agosto de 2012

estar no jogo, pensar no tabuleiro
como personagem e observar
de fora, como jogador. estar entre
os dois como jogada,
um cavalo que vai junto e
leva pensamentos que não
necessariamente são seus
qual pensamento virá? nesses
espaços de palavras, sons,
projetos, ideias que navegam e
não esperam e nem chegam, pois
não há lugar para isso. o mapa
foi elaborado para transitar,
quando me dei por mim, não
havia notado o caminho, e
deixei o marco delimitador,
ganhando os horizontes sem
imagens técnicas nem narrativas,
fui ao paraíso e de lá voltei
mudo, para não falar da experiência
e cultivar o esquecimento
o tempo suspenso
da realidade
quando ouço
e era pra ser silêncio
com o som contornado

sexta-feira, 15 de junho de 2012

mudança

nenhum prego na parede restou
para pendurar a roupa
enquanto banho
coisas de ir, coisas de ficar
aquilo que se dá
reunido num canto
como violino tocado de frente pra parede
esperando para chegar
outra janela, outra vista
até onde se alcança ver
tocar com o pensamento
de verdade

vila isabel

sou grato por tudo
pelos amigos que recebemos
pela hospitalidade
a casa é nossa, é sua
não é de ninguém
apenas trouxemos cânticos
sons de flauta, poemas
vozes e dedilhados
nas cordas dando acordes
as melodias pousam
para ver o que passa
e também cantam
e então voam
por outras paisagens

*

o vento soprando na janela
balançando a cortina
numa dança singela
ao som dos pássaros
voando mais um dia
o planeta é esse mesmo
tantas coisas se passaram
no sigilo do esquecimento
a tarde movimentando
mais uma manhã que foi
outro dia que passou
e a noite trazendo
um novo amanhã
outro dia
sou grato, Deus
pelo espírito
e o alimento de cada dia
quando sair
nada deixarei
pois tudo é seu
mãe terra, querida irmã
minhas lágrimas quando vêm
são para que a semente brote
para o renascimento,
mantém o movimento
em outros tempos
nas suas esferas


(31 de maio de 2012)

segunda-feira, 4 de junho de 2012

pensamento sobre a memória virtual (quando ainda não corrompida)

a perda de memória virtual
atual local das vivências
é uma doença incurável
porém, há uma planta mágica
usada para amenizar os efeitos
desse tipo lembrança
sublimada em forma de risos

domingo, 13 de maio de 2012

mundo


velho mais que a pedra
que um dia derreteu
e tornou-se montanha
terra sempre molhada
sons de ondas na beira
mar que acaricia o litoral
na parte que o sol seca

sábado, 5 de maio de 2012

mar de lua

a concentração
perguntar é buscar
o saber
vivência de aprendizados

sexta-feira, 4 de maio de 2012

olho as horas
pensando que poderia ser mais tarde,
mais chuvoso e frio.
 
poderia ser tão perigoso como vazio.
 
o que não é mais
é o tempo que resta
ao mesmo tempo.
 
é na curva das horas
quando o sol não vê nem buraco negro
que gira e some
 do jeito que lhe cabe
num ponto do universo.

na saída

poderia dizer que vivi
tão assim que nem vale à pena
é a mesma coisa e assim
economizo as letras
fica por isso mesmo
teria enviado palavras
mas elas desmoronaram antes
não sobrou nenhuma
para além de um incômodo
de interrupção
que me faz apenas
deixar de falar

ao menos um dia

dinossauros, sóis, buracos negros, recomeços, pavões, colibris, minerais, vegetais, sonhos e lendas

voo

seguindo em frente
buscando o destino
(ou o futuro nos persegue
e a saudade espreita)

correndo, correndo,

os olhos entre as mãos,
segurando a beira do muro
e mesmo assim quase visível

quinta-feira, 22 de março de 2012

o sangue ferve

de frente pro muro, muito perto
um quadro enorme indefinível
de costas pro abismo, sem saber
a quantos passos exatamente
buscando ver a imagem inteira
quem sabe
a derradeira

quem sabe pular
o muro deserto
decerto ou somente
não há nada além dele
quem sabe?

parede tem dois lados
mas nem sempre um fora
que separa

segunda-feira, 19 de março de 2012

sou contra aplausos, pois matam mosquitos

vidro quebrado
com guitarra
pelo direito de intimidar
prefiro aqui meu lugar:
um palco vazio
onde esqueço os sons
que fiz

e me divirto
brincando de lembrar

folha arrancada nº 02

agora
é assim
vem
e passa

folha arrancada nº 01

começar a escrever,
a palavra na folha
desapego do novo
no caderno
a vivência está no
movimento
da mão e assim
sucessivamente, no
entorno de dentro
e de fora
sonhos, pensamentos
num trecho do
espaço e tempo

quarta-feira, 14 de março de 2012

nesses dias

de cantar
sorrir, chorar
e calar
que vão passar
dias de correrias
dormir, acordar
e cansar

temos que planejar e jogar
mesmo faltando muitas cartas
e algumas das peças certas
ou até esquecendo as regras

ninguém vai lembrar da voz
do riso, das piadas toscas
das cartas marcadas
momentos no escuro
quando vemos os vagalumes

vou pensando assim: [][][][]
as letras brincam
embaralham as ideias que tive
e esqueci

pego o telefone para ligar
torno a colocá-lo no bolso
como quem quer apenas saber das horas

sábado, 18 de fevereiro de 2012

somos um breve instante
fagulha de tempo e espaço

tão fugaz

que buscamos saber
e deixamos de ser

sem terminar a pergunta

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

***

o entendimento vem do cotidiano,
como o alimento dos pássaros,
as vestes de um lírio
que brilham mais que o sol
a estrela que nos brilha
no azul de um infinito da existência
onde está o seu coração
na luz divina