quinta-feira, 22 de maio de 2014

e a escrita teve tal supremacia que todos os gestos se tornaram uma massa disforme, incapaz de gerar sentidos. e as letras nas palavras não poderiam a partir daquele instante ser pequenos insetos que passeiam pelas folhas. foi quando deixei de tentar entender o mundo, quando as tomadas deixaram de ser rostos, quando a torneira deixou de ser um pássaro com pescoço prateado, quando o tapete não mais era uma pequena floresta e a mesa não poderia mais ser um quadrúpede com olhos de gaveta...

quarta-feira, 21 de maio de 2014

chove e o tempo passa
lento
todo
inteiro

nem sei, mas
penso que penso
refazer a rotina
desmontar o cotidiano
lego com diversas peças
ser amigo por onde for
manter o brilho
que ilumina a senda
força dos olhos e sorriso
e também discrição
pois aprender é atenção
evitando o risco da ilusão
muitas vidas que tive
e observo o agora que passa
como pinturas rupestres
ritos apagados pelas intempéries
resistindo apenas em fragmentos silenciosos

a pele cicatrizou
muitas vezes
curtida ao sol
e enluarada nas madrugadas desse mundo
que também já foi muito e se transformou

sexta-feira, 9 de maio de 2014

posso dizer

sem traduzir
em um olhar míope e meio surdo
é o que é

marte no céu e vento frio na madrugada


no lugar onde está
no devido, sem dúvida
quiçá

cada som que vai no ar
todos a vibrar
até a voz calar

no devido lugar

cada qual a vibrar
som e silêncio
que prevalece no ar