a vida é uma viagem de ida corrida sem olhar pra trás
já não tenho papéis para anotar as impressões
o tempo é da contemplação
passa na pele, como o vento
assim é

ouço o trovão
cai em frente de casa
e te acorda
chove tanto esses dias
você me diz
para lamber as próprias

feridas

e eu acordo

tempo, meu camará
mar infinito
de substância mutante

mesmo outra coisa
outro momento
permanece afora

pensamentos e palavras
cânticos imaginados
ao som das cordas

toco o calor do sol
naquela tarde
desocupada

desliguei as máquinas
deixei que enferrujassem

esses dias
trazem o selo
do esforço
inesquecível
do zelo e do náufrago
sorrindo para a morte
mesmo quando a sorte escapa

pensamentos
clareando o dia
partilhados
com o vento

louvação II

como é a tarde
anoitecendo
folhas, borboletas,
abelhas, pássaros
cantam e estou a
louvar

louvação I

silêncio
essência secreta
orvalhando a fala
o canto
junto ao refrão
em cada louvação

hoje olho o que
passou
o que passa

talvez o salto
quântico
seja singelo
e fantástico

paz, infinita paz
arrodeia
o planeta terra

talvez o salto
quântico
venha quando ninguém espera

a vida
materializa
dimensão
terrena
transmuta a eternidade
brincando
de maneira perene
imagina

coração bate dentro
treme a parede da casa
relampeia noutro lugar

é como se o vento
nunca mais fosse voltar

tocando a superfície
da alternância

caminho
intransferível
irreversível
irrepetível
num lugar do cosmos

daqui vejo pessoas
buscando graus

iluminar
que a visão da matéria
não há de alcançar
toda escala

cada caminho
percurso pessoal
nunca saber
o que é chegar

ah se soubéssemos!