quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

o novo se renova

ciclos formam camadas
lençóis que se transformam em montanhas
histórias que são passadas por séculos
que se esquecem e depois de outros tantos séculos são lembradas

e

nesse caminhar de sonhos que se esquecem ao acordar
vivem milhares de seres
que voltam a ser poeira
e em forma de poeira viajam
e se depositam sobre a grama
ou vão para o fundo do mar

etc etc etc

bom é alternar o esquecer e o lembrar
e viver nesse entremeio entre o sonho e o acordar

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

simplesmente

se não acredita
então
não há motivos para
regar a planta
alimentar os elementais com pensamentos
e conversar com as folhas ao vento

as pessoas colhem esperanças
nos dias que atravessam a vida
quando não podem
vivem uma vida opaca e morta

viver
se e somente se é possível acreditar e sonhar

as coisas acontecem
no tempo entrelaçado dos fios das narrativas
que trazem um pouco dos brilhos dos olhos
de todos os que viveram seus dias épicos

vão tecendo ciclos
que estão ligados com todos que já foram
e os que ainda virão

e silenciosamente o sol se põe
quando amanhece em outro lugar

o livro se completa, a estória chega ao seu termo
e o sol quando vem não se esconde
no fino frio que é o último suspiro da noite

e assim
o sol é traduzido pelos pássaros
que são o sal do vento

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

A máquina lava roupas
Que não serão usadas
Fim de tarde
Os pássaros e palmeiras louvando
Sob a luz do sol em seus derradeiros brilhos que viajam
E a vida segue
Caminhando sobre a terra que é um vestígio de todos que foram
Num banho de mar
Corpo que ainda não se dissolve de todo
E louva ao sol mais um dia



sábado, 30 de agosto de 2014

Seu Wilson

Grande figura seu Wilson! Quarta-feira ele me olhou com uma mala e mochilão descendo pro Rio e perguntou: "tá chegando?" e eu ri (por causa das viagens que estão rolando esse ano) e disse que estava indo. Aí no caminho fui relembrando esse lance de que as viagens são sempre só de ida, não há volta, ainda mais viajando pra São Luís, onde morei a maior parte da minha vida, e as pessoas tendem a perguntar se eu estou “voltando”, mas a vida é só de ida.

No caminho, fui vendo a encantadora vida em Paquetá, com cantos de pássaros e o esplendor da natureza, com sentimento de gratidão pela oportunidade e ensinos e seguindo adiante. Pedalando pela ilha nas ruas desertas vem um clima de cidade perdida nas brumas, algo mágico que se dissipa com um movimento brusco. Dá pra ouvir as ondas do mar da janela do (ainda) quarto, que é um som ancestral desse lugar.

Nos últimos meses todos os dias pela manhã tem aparecido um senhor com seu cachorro na beira da Praia dos Coqueiros andando lentamente de bengala. Ele senta num banco de pedra sob a sombra de uma árvore na esquina que parece um bonsai gigante e toca flauta usando somente uma mão, sempre a mesma música naif a la Syd Barrett usando 3 notas, como um mantra. Ás vezes acompanha tocando pandeiro com a outra mão e também toca gaita e pode chegar a tocar mais de 2 horas, com algumas pausas.

No fim de tarde o vizinho ao lado esquerdo toca piano por mais de uma hora, começando pontualmente às 16h30. Nunca ouço escalas e exercícios, mas sempre é música pra valer, as quais são executadas maravilhosamente e mais de uma vez, com pequenas variações no andamento. Rola altos blues e também uns clássicos. Ontem quando soube da notícia que seu Wilson seguiu a viagem tava rolando uma música bem dramática. Penso que ele toca com a janela aberta de frente para o mar, de onde pode olhar o mar e o pôr do sol.

Esses últimos 10 dias estive aqui em Paquetá nostalgicamente arrumando as coisas e vivenciando o quarto já sem memória visível, com cabides vazios e algumas sacolas desterritorializadas. Os pássaros continuam cantando e os cachorros latem em diversos pontos da ilha e às vezes uivam juntos. O flautista já começou com o som. Seu Wilson disse uma vez que quando morresse queria uma festa e rolou um tambor de crioula no centro do Rio, chamando para pungar no Maranhão e nas voltas que o mundo dá.

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

mestre
que sendo tal
nos ensina
à distância
relembrando
o ensino
onde quer que esteja

quinta-feira, 12 de junho de 2014

efêmera

a onda que toca a areia
de um mar tão eterno
ao sabor do vento
ritmo de universo

toco o tempo
e vou me dissolvendo nele

é a luz no pensamento
em vão nada no mundo é
pelos tantos que vieram
para se chegar ao que é

voa a folha
cai uma única e última vez

efêmera e eterna

domingo, 8 de junho de 2014

pachamama

entre tantos que vieram e já foram
estou solto em sua pele
alguns pensam que vivem em cidades
as folhas voam com o vento
e caem uma única e última vez

me apresentei à vida
também me despedindo
ou é somente
esse céu
de fim de tarde
no qual reencarno
inúmeras experiências
de muitos espaços
no decorrer desses
dias
no friso do vento que
ganha a janela
recomeçando afora e
secando as asas

quinta-feira, 22 de maio de 2014

e a escrita teve tal supremacia que todos os gestos se tornaram uma massa disforme, incapaz de gerar sentidos. e as letras nas palavras não poderiam a partir daquele instante ser pequenos insetos que passeiam pelas folhas. foi quando deixei de tentar entender o mundo, quando as tomadas deixaram de ser rostos, quando a torneira deixou de ser um pássaro com pescoço prateado, quando o tapete não mais era uma pequena floresta e a mesa não poderia mais ser um quadrúpede com olhos de gaveta...

quarta-feira, 21 de maio de 2014

chove e o tempo passa
lento
todo
inteiro

nem sei, mas
penso que penso
refazer a rotina
desmontar o cotidiano
lego com diversas peças
ser amigo por onde for
manter o brilho
que ilumina a senda
força dos olhos e sorriso
e também discrição
pois aprender é atenção
evitando o risco da ilusão
muitas vidas que tive
e observo o agora que passa
como pinturas rupestres
ritos apagados pelas intempéries
resistindo apenas em fragmentos silenciosos

a pele cicatrizou
muitas vezes
curtida ao sol
e enluarada nas madrugadas desse mundo
que também já foi muito e se transformou

sexta-feira, 9 de maio de 2014

posso dizer

sem traduzir
em um olhar míope e meio surdo
é o que é

marte no céu e vento frio na madrugada


no lugar onde está
no devido, sem dúvida
quiçá

cada som que vai no ar
todos a vibrar
até a voz calar

no devido lugar

cada qual a vibrar
som e silêncio
que prevalece no ar

segunda-feira, 7 de abril de 2014

do alto mar só a brisa
alto mar
o pensamento

domingo, 30 de março de 2014

naquele dia eu te vi de longe

e havia um sentimento irônico,
de quem vê a vida como uma viagem sem destino,
que pode ser breve ou longa.

sábado, 1 de março de 2014

Deus me dê o entendimento,
um pouco de sabedoria
e toda humildade que puder carregar no coração

"a desculpa não é o perdão, mas a porta"

que a fé guie meus passos
nesse mundo e nos outros
mesmo quando voar
dê firmeza para que possa sustentar a realidade
em toda suas intensidades

agora

nesse ponto que risco
um caderno que um dia que se acaba

estou vivo
existindo por aí

um porto
e uma barca que sai

tudo já é
aqui e agora
é o que não para de chegar

sensações

tão breves
quase parecem um reflexo da eternidade

o que fica
é o que permanece partindo
sem resistência
não se cultiva força

diferenciando

dobrar-se ao futuro
confiar e seguir
ter o passado nas mãos
escorrendo e deixando de ser
no salto quântico, no acaso
sou irreconhecível
fui e não terei sido
percebido e transbordado

as nuvens mascarando
o planeta bordado no céu
e desvelando-o
com uma pintura
feita de água e raios de sol
brilhando na superfície
da pele que se desprende
escorrendo pelos dias

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

o sentido disso tudo I

na pele o vivido
que as palavras toquem os ouvidos
incorpóreas
como ações
uma fruta que cai
estala no telhado
o sentido?
motivo, motriz, movido
apenas uma lambida nos seus olhos
e sonhar acordado
tudo que me for possível

a música que diz
silêncio,
apenas pense em mim.
como se tivesse sido
a lembrança que desfiz
no tempo que penso e resta
mundo de outrora
quem fui no passar das horas
dias, meses, anos
quando olho a aurora
se sobrepondo ao tempo dos sonhos
eixo sobre o qual gira a roda do destino
nesse tempo de agora
que se esgota aos poucos
ou num piscar de olhos
faz lembrar que o tempo pra pensar não sobra
quando se transforma a tarde
apogeu que vai embora
deixando rastros nas cidades
e girando as trancas das portas

sábado, 4 de janeiro de 2014

na trilha

ontem fui dormir
pensei algo que esqueci
deixando ao acaso
pra talvez relembrar

até o momento esqueci
mesmo assim sem lembrar
a materialidade da memória
pode num instante deixar de existir

há vozes que não mais iremos escutar