segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

com essa poesia

ardendo os olhos
dedo na ferida

*

os dedos gastos
na passagem
trovejando ao longe
ao perto
uma vez mais
minha alma paira
no esquecimento
que surge quando em vez
em sonho

domingo, 5 de dezembro de 2010

sábado, 27 de novembro de 2010

*

sem sono

e sem as palavras

que
tanto querem se colocar no lugar da ação
quase materializadas, palavras-coisas
sem sono eu caminho pela escuridão
tateando letras que se fazem escritas
letras, letrinhas, uma sopa de sentidos

os 3 sons da madrugada, baques de ferro
as lágrimas que secam
olhos ardem
e tudo vai passar

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

olhar

alguns momentos
não sei se sou porto ou barco
se vou se estou
indo, não há voltas
nem chegar

tem isso que vemos
uma vela acesa ainda

tem isso em que cremos
lembranças e pensamentos

tem o que esquecemos
por isso sonhos não tem peso

*

quando sou terra
me banho de chuva
secando ao vento
para voar
ou sendo alimento de planta
num tempo incontável
pra ficar
em impermanências
a paisagem é a mesma
nas imagens e edições
únicas que somos

*

decidi pisar na trilha
seguir a história
que ela conta

uma fada pousou em mim
e voou

me pergunto das minhas asas
em imaginação plano
há um horizonte

pois quando rompe o casulo
é pq não dá mais
se expande e o vento seca
torna leve

sem perceber já no ar

*

choro, sonho
não lembro
esquecendo de esquecer
memória
escombros e ruínas
que um dia foram cuidadas
permanecem mais que as pessoas

terça-feira, 26 de outubro de 2010

*

sugado pelo vazio
na respiração que sai
água que vem afogando
quando o fôlego vai

na puxada trazendo mais água

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

pra que serve um gato

pra que serve um grito
na calçada, na calma, pé descalço
no silêncio embarcando súbito
uma nau que partiu
sorriu, acabou em prantos
navegou nas lágrimas e descobriu
o interior no fundo a correnteza
por onde o rio segue
a chuva desçe e vai
e assim por diante
cada dia, uns menos ou mais
enfim
é isso que vamos
poderia nem falar disso, mas
enfim, é isso mesmo
não é clássico, nem muito lírico
transcendência, tocando teclas de um notebook
numa sala vazia
o desenho seco no chão
natureza na mesa, quase certeza
e a fruteira é muito bonita
como era e sempre foi a arte
narrando a sensação de não haver palavras

terça-feira, 12 de outubro de 2010

*

morrer é entrar no banho quente no inverno
nascer é desligar o chuveiro e se enxugar

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

variação sobre uma jam

hey joe o que você foi fazer no maranhão
hey josé de ribamar
ó que horizonte belo
de se refletir
hey josé de ribamar
I'm goin' way down south
way down where I can be free
ain't no one gonna find me baby
eu jamais te esquecerei
são luís do maranhão
lá lá laiá lá lá laiá
lá-láá-lá-lá-láá

o colibri toma conta do jardim

hoje amanheci
dei bom dia ao dia
fiz as coisas em silêncio
e andei pelas ruas, paguei contas
fiz um almoço, parte de outro almoço
e que ainda continuou numa janta
vi um colibri vir tomar água na janela
quando tocava calix bento
e eu passava apressado
para um próximo momento
bem no ponto onde termina uma jornada
inicia outra
e assim sucessivamente
o colibri vai de flor em flor
sabendo disso instintivamente
e sua atitude gera a primavera florida
sem que ninguém perceba

sábado, 2 de outubro de 2010

sol e água

duas coisas que podem desenvolver ou acabar com uma planta
de acordo com a quantidade

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

a estrela de salomão

cada um deve
buscar
conhecer
(triângulo piramidal - heliocêntrico do meio dia)





e com outros aprender
(triângulo com a base invertida - assimilação - reflexo da lua cheia)


ensinar quando souber
(estrela de seis pontas - transformação)

onde

no tempo o mapa
no espaço a garrafa
no mar o entremeio e a carta

no meio, entre o tesouro e o mapa
no baú enterrado sem a chave
no croqui desenhado, na memória

terça-feira, 21 de setembro de 2010

reflexos nas manhãs

queria a certeza
como se fosse
ao acaso que viesse
sem rodeios
no som
da tua voz
pra sair daqui
desse quem sou
apaziguar

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

vendo daqui

não poderia imaginar
que iria sair daquelas árvores
das trilhas que andei
e estar aqui, vendo tudo
da perspectiva da memória
nessa estrada longa
enquanto a baba do cachorro tá ali
nos cheiros de terra, moscas no ar
que não vejo mais
girando nos dias, nas primaveras
que chegam
como secam e passam
em eras, lágrimas e colheitas
feitas na garoa das manhãs
glórias e histórias
pra esquecer, pra lembrar e contar
enfrentar a cidade grande
deixar no porto as lembranças
agora seguindo o balanço do ir
para as batalhas
não concebo minha vida
sem as cicatrizes, sem as curas
que fizeram-me
tornaram-me um enredo
diluído nas palavras e causos
perdidos nos silêncios das mesas
dos coretos e das estrelas

*

vida é pele
a gente fica querendo
ir mais pra dentro,
ou além disso
mas estamos na crosta
é onde pensamos

o mistério do planeta

domingo, 12 de setembro de 2010

pombos subterrâneos, frio e o derredor

fim de tarde
o dia vai passando pro outro lado
silêncio, vazio de sala
tudo vai assim
na correria, na calmaria
em novas manhãs
fim de inverno
mudam as estações
e os cantos dos pássaros
migrando
grãos que o tempo lançou
em algum lugar
grãos no chão
esquecimentos semeados
brotam e lembram
da natureza a narração
sem palavras ou reflexos de água
escrita com terra e chuva
escorrendo
escrita com frio e acalento
pergaminhando o novelo
em torno do sol
no eixo de um galho
tão sem nexo

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Cometa Swift-Tuttle


olhei pro céu
meteoros vindo
pousaram na minha mão












O cometa Swift-Tuttle é um cometa que é responsável pela chuva de meteoros Perseida. Cada julho e agosto a Terra cruza esta trajetória do cometa causando uma chuva de meteoros.

O cometa Swift-Tuttle é o maior de todos os objetos celestes que faz repetidas passagens próximas à Terra.

Este cometa está em órbita em torno do Sol com um período de aproximadamente 130 anos.

O cometa Swift-Tuttle foi descoberto em 16 de julho de 1862 por Lewis Swift, de Marathon, Nova Iorque, e independentemente descoberto alguns dias mais tarde, 19 de julho de 1862, por Horace Parnell Tuttle, da Harvard University, e vários outros astronomos.

O cometa Swift-Tuttle é o mesmo que o cometa Kegler, o qual foi primeiro visto em 1737.

O cometa Swift-Tuttle foi visto pela última vez em 1992 e sua próxima visita será em 2126.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

***

som em fade out
movimento de dança
trans
na ginga o reggae roots
e nunchaku
louvado seja
o movimento
cíclico
voa e aterrisa
libélula
precisa tocando a superfície da água
formando vibrações que modulam o reflexo do céu

domingo, 8 de agosto de 2010

village

uma árvore na calçada
passando entre a multidão
as pistas duplas
idas e voltas
você na janela, nas paredes
ecoa risos e tempestades
poderia ter sido assim
sem histórias
mas dentro da árvore
são esculpidas sementes
sempre foram um viés
que anoitece e quando clareia
vai rodando sem parecer
a árvore rodando, sobre um pião
o tempo, a matéria e a extensão
do infinito
na rocha um dia virando grão

sábado, 31 de julho de 2010

pra jane

nascendo o dia sol
abre os olhos
faz que volta a dormir e gira
o horizonte busca seu melhor ângulo de luz
fotografando a melodia
água de banho, de renovação e limpeza
pensamos em chuveiros nas caravanas
e todo o sistema das cavernas que habitamos

quinta-feira, 22 de julho de 2010

glória

guardamos lembranças
mais que as caixas
a pintura está na parede
para alegrar quem por ali passar
os pássaros às seis da manhã
naturalmente no tempo dos dias que correm
procurando alimento, cantando
no meio de muitos
emitir o som da vida é ser e estar
continuando o caminho
há infinitas belezas
e as pegadas são tantas

os sonhos cardeais
que surgiram e molharam o chão
de cada dia
consagramos o aposento
isto fica como uma benção
para os que virão

segunda-feira, 28 de junho de 2010

sonhando com Nanã e sincronicidades

parte I - o sonho

estava voltando pra casa
no meio da rua uma aglomeração festiva de terreiros
muitas gente de branco
duas rodas de pessoas
chego pra olhar a primeira
me pedem licença pra Nanã passar
ela entra na roda
é uma senhora e está com roupa branca com detalhes vermelhos
a outra roda, com alguns detalhes azuis, é pra Ogum

sonho ainda que estou pelado no metrô
tomando banho na área de embarque
na esquina dos túneis chega um trem gigante, com poucos vagões
passa quase destruindo o túnel principal, entortando os trilhos

parte II - acordado, dia 26 de junho, um sábado ensolarado

fui no parque lage com Jane, Heidy e Letícia
passeando perto da Lagoa dos Patos, o óculos de Jane cai na água
praticamente salta de sua cabeça
nos domínios de Nanã, perto de Oxum
neste local elas estão muito próximas
e confundem à primeira vista
vou buscar pra Jane, entro na água
mesmo imaginando se há uma jibóia por ali
o chão de folhas em decomposição é fofo
quando piso surge um cheiro característico, entre a névoa de lama
depois tomo um banho de cachoeira, antes de ir pra aula

parte III

na aula de arte sonora, um vídeo é exibido:
trans europe express, do kraftwerk
aparece um trem enorme, com poucos vagões
fico encucado com o sonho

parte IV

chego em casa de noite, procuro no google algo sobre Nanã
a seguir, alguns trechos do que está escrito na wikipedia:

Nanã Buruku é um nome pertinente a um vodun e orixá das chuvas, dos mangues, do pântano, da lama (barro molhado), senhora da Morte, e responsável pelos portais de entrada (reencarnação) e saída (desencarne).

Nanã é chamada carinhosamente de "Avó", por ser usualmente imaginada como uma anciã. É cultuada em todo o Brasil nas religiões Afro-brasileiras. Seu emblema é o Ibiri que caracteriza sua relação com os espíritos ancestrais. Como "Mãe-Terra Primordial" dos grãos e dos mortos, Nanã Buruku poderia ser equiparada à deusa greco-romana Deméter-Ceres-Cíbele.

Protetora dos idosos, desabrigados, doentes e deficientes visuais. É um vodun, segundo alguns pesquisadores, originário de Dassa-Zoumé, é uma velha divindade das águas.

Dia: sábado Data: 26 de Junho
Domínios: Vida e morte, saúde e maternidade
Saudação: Salúba!

Certa vez, os Orixás se reuniram e começaram a discutir qual deles seria o mais importante. A maioria apontava Ogum, considerando que ele é o Orixá do ferro, o que deu à humanidade o conhecimento sobre o preparo e uso das armas de guerra, dos instrumentos para agricultura, caça e pesca, e das facas para uso doméstico e ritual. Somente Nanã discordou e, para provar que Ogum não era tão importante assim, torceu com as próprias mãos o pescoço dos animais destinados ao sacrifício em seu ritual. É por isso que os sacrifícios para Nanã não podem ser feitos com instrumentos de metal.


fiquei intrigado com todas sincronicidades


posto aqui uma canção que compus em 2006

samba dos barbilhões

o reflexo do espelho, chego a duvidar
ela mora no rio, e já quis me levar
conheço seus caminhos, neles encontro o mar
e quando me visita, sei que posso não acordar

mas eu não ligo a luz, até sua voz escutar
talvez num desses dias, vamos nos encontrar
enquanto isso eu sigo, como um peixe a nadar
vivendo minha vida

sangro e a máquina quer que eu chore
quer meu tempo e minha força
a máquina quer disfarçar seu frio com minha alma exausta
calor de parede em fim de tarde
logo tão fria quanto a carne
destituída de direitos, da vida

afunilam-se várias gerações moídas em série
enquanto poucos tornam-se incapazes de continuar a produção
seja o mendigo, o alcoólatra, o jovem, miseráveis e enfermos
o último dos vagabundos, sempre o último

a lâmina capacitando com arte cada pedaço cortado
a tornar-se um óleo feito da essência humana para a combustão
a máquina quer gerar, mas é estéril
por isso, devora todos os filhos
enquanto toco a música
através dessas ilusões


mas eu não ligo a luz, até sua voz escutar
talvez num desses dias, vamos nos encontrar
enquanto isso eu sigo, como um peixe a nadar
vivendo minha vida

sábado, 26 de junho de 2010

acordado dormindo

outro dia descobri que estava sonhando
antes de acordar
foi legal ter consciência mesmo dormindo

*

a vida como
todo caminho
que nunca trilhamos
não sabemos
se está longe o fim
ou quase chegando

quinta-feira, 27 de maio de 2010

*

minha musa inspira
expira, transpira
e dorme felinamente

a toalha seca ao vento
que arrudeia a montanha

quando anoitece

deixando traços
marcas & fotos

mais um pássaro no quadro

quinta-feira, 20 de maio de 2010

música & solidão com ou sem desafinação

quando estive mais sozinho, ganhei um violão do meu pai
aprendi a ficar comigo, a pensar e seguir
a música me proporcionou aventuras & amigos
e muito amor que nunca poderia imaginar
assim, pude compartilhar um pouco de mim
para além das minhas dificuldades
com a música, pude brincar com palavras
e manter um pouco da essência da infância
mesmo quando me vejo no espelho, fazendo a barba
e ficando mais velho que alguns músicos lendários
autores das minhas músicas favoritas
mitos que morreram cedo, no meio do caminho
enquanto eu já cheguei até bem aqui
aos trancos e barrancos
para além das 27 primaveras limítrofes
da juventude midiática
vim sem eternidade nem garantias de nada
com algumas músicas que me surgiram
ou apareceram e me espantaram nas madrugadas & quintais
fiz pessoas felizes
(é verdade, bem poucas, mesmo contando comigo
mas o suficiente
pra tornar minha alma mais leve
em alguns momentos
inebriado por sorrisos, por amores
& me sentir vivo

esses tempos venho percebendo o caminho desde onde saí
é tão longe que nem tenho ideia certa do quanto
sei que não chegarei ao fim e nem onde muitos querem que eu vá
de um fôlego só
e tenho noção de algumas das minhas limitações
que são uma parte do que sou
nessa busca incessante para melhorar
de alguma forma ou de outra
estou nesse corpo, sou nesse corpo & para além dele
digitante de palavras cantantes
rabiscante de traços tortos, que às vezes redesenho
vindos de não sei onde
quem sabe psicografados, loucuras ou apenas viagens
e se esse eu-sou-estou & vou
não veio com todos opcionais de fábrica
ou foi muito esmerilhado pelas calçadas
ainda assim aproveitarei o que tenho e o que me resta
cuidando da melhor forma possível
que eu possa perceber e o acaso e intuição me mostrar
buscando ser feliz e me divertindo
seja num mega parque de diversões
ou no não-lugar imenso da minha imaginação

uma força me levando em frente
não me deixa parar
no caminho que é infinito
e tantas vezes foi e será vazio
somente voz e violão
um berimbau, uma guitarra
pra sorrir, pra chorar

música, não me deixe parar
por aí
sem sorrisos

PS: o tanto que andar
ainda será sempre o meio de um caminho
que chega ao infinito
somente visto do lado de fora

terça-feira, 18 de maio de 2010

*

um momento é a vida
num sopro divino
dissolvido na brisa

*

restauro a cada dia um caminho em pedaços do ontem
com a chuva venho em gotas alimentando fungos
molhando folhas

quando chego sou transparente
quando me vou sou invisível
cascatas de luz

cada feixe entrando num ponto
armadilha para a imagem que passou

domingo, 16 de maio de 2010

*

ruínas com brinquedos
pedrinhas
rodas de carro

plásticas
restos de um ontem

amanhecido
tudo que relembrou

infantilmente

*

passar a existir
estar ali
onde se está

aqui
onde me olha
tevendoser

quarta-feira, 5 de maio de 2010

*

jogo das trocas
lados da moeda
além de trocos e trocados

apostas das palavras
as trocas de informações
sem preço

quarta-feira, 28 de abril de 2010

*

uma cidade
que não vou nunca
saber qual
tem a forma do
teu rosto
deitada
com os cabelos soltos
e nem sei quem és

umaqui outrali

as cidades começam
como faíscas
que se alastram
e de noite vemos
as suas brasas
urbanas

do alto
a lua vai traçando
e refletindo nos
lagos, riachos e espelhos d'água

no horizonte tem
3 planetas
todos em carreirinha
um é marte o outro júpiter
e a lua mais acima

na volta

lá embaixo a
cidade

uma crosta de luz
refletida nas
nuvens


em cima as estrelas e a lua
longe os trovões na parede escura


II

ligo a luz
pra ler
o mundo some
num excesso de
perto


mas não dentro de mim

esses tempos


dentro de momentos
e instantes
minha passagem é
mais rápida que meus
passos


não entendo como
talvez compreendesse
como quem faz sonhos
com temperos que temos
na cozinha

você luz
você chamas

sobre o chão
além disso
corro no ar

voando no solo
lento fundo e mar
onde imaginamos


III

e estaremos em
pensamento

avião ônibus
qualquer coisa que
passe numa madrugada
antes do dia nascer
me tens por casa
e te tenho por brisa
em meu rosto
que duvida do vento
na ilusão do suor
em mim besuntado

é difícil crer
mais ainda desacreditar
mas sempre seguir
hoje eu, amanhã você
e quem antes de mim
me trouxe aqui
no balançar tênue
e lânguido de
móbiles que somem
conforme

chega um novo dia

domingo, 18 de abril de 2010

*

a teia
é feita
de um só fio
paciência
p/ ciência

quarta-feira, 14 de abril de 2010

ritornelo

sou a casa
o interior
desterritorializadamente
estou
sendo o longe
cada vez mais próximo
de onde chegarei
pois nunca saí
desse ir

sexta-feira, 9 de abril de 2010

chuva

sons de helicópteros
bombeiros e ambulâncias
chegam pela janela
onde olho intacta a paisagem da montanha
um vende sereno
folhas meditam após a chuva
o caos lá fora, um tanto longe
penso

em seguida olho pra dentro
meus pensamentos inundados
certezas soterradas
algumas identidades mortas
outras desaparecidas
no silêncio

fragmento

três cobras no varal
diferentes espécies
escuto a explicação
sobre os diferentes venenos

em todos três
a morte é a mesma
para a vítima

mas posso fazer uso dessas informações
criando antídotos
afastando o perigo


A interpretação dos sonhos é importante, na Antigüidade, porque é através da significação de um sonho que se pode ler o indício de um acontecimento futuro.
As técnicas de si - Foucault

Sonhos são realidades futuras - Os sonhos de ontem são frequentemente as realidades de amanhã.
Aforismos - Bruce Lee

segunda-feira, 5 de abril de 2010

como deve ser a viagem

voltando nas paisagens gastas
às vezes nem olho
sentindo a tarde no vento
as pessoas em seus caminhos
escuto are we a warriors
pelo que sou
não pelo que tenho
tocando num telefone
the earth is alone
and I give thanks for the fullness
within the firmaments
is golden days and blossoming nights
o calor de verão prestes a acabar
escorrendo nas paredes de pedra
com lama e casas
uma onda que vem de cima
cai em cheio
me acorda
na marca resplandecente do guerreiro
are we a warrior
wo oh oh Cupid, it's stupid
let not you arrow from your bow
and never let it go
cascas cicatrizadas caindo uma a uma
os medos ficaram por aí
ou foram lançados adormecidos
no esquecimento
em algum lugar longe daqui
no tempo de uma dança
o som dentro, onde estamos

quarta-feira, 24 de março de 2010

sonho do cemitério

o cemitério estava lotado
final de tarde, todo mundo passeando nele
várias tumbas abertas
mostravam como um corpo pode ficar aos visitantes
algumas pessoas chegavam a mexer nos ossos em exposição
eu ia explicando sem falar o significado das esculturas nos túmulos
os pés de leão, o anjo que chora e o que aponta pro alto
já quase fechando, o sol se pondo, as pessoas saindo aos poucos
vi que o cadeado superior da porta principal tava só encostado
e o cadeado maior, de baixo, eu tinha a chave
decidi entrar no cemitério pela noite, mais vazio
bem, minha cama era na porta do cemitério
com lencóis brancos
em frente ao buteco, onde uma galera fica bebendo
ninguém me perturba

de noite eu fui lá ver o que rolava
vi o zelador pintando um quadro colorido
com a imagem da filha dele em preto e branco
acho que ela já morreu e ele é meio doido

na hora de sair, não dei esparro
uns políciais que estavam na porta nem notaram
encostei a porta e saí por aí

tô na praia agora
a garçonete traz uma anchova temperada enorme
e sardinhas, tudo cru
belisco umas 2 ou 3 sardinhas
ela volta pra começar a assar
e retorna com uma panela enorme cheia de arroz
vou misturando, soltando o pregado do arroz
lá embaixo descubro uns camarões

tô acordando, tô acordando



conhecidos que participaram do sonho:
jane, patrick, silvia, zito, clau, maria tereza

terça-feira, 23 de março de 2010

os cães dos sonhos e das mitologias

estava deitado ainda, já acordando
quando os cachorrinhos começaram a cavar a porta
abriram e foram pra cima de mim
uma fêmea amarela, parecida com o pai
e um macho preto, parecido com a mãe
levantei com eles me lambendo e fazendo festa
enquanto espantava os dois de cima da cama

fui no lado de fora da casa
havia marcado uma pescaria com meu filho
o caseiro lá capinando
dei bom dia e falei pra ele dos cachorrinhos
ele me disse apenas que na roça devemos acordar antes dos cachorros

peguei uns pedaços de presunto, pra isca na pescaria
mas comi, pois vi que os peixes iam comer sem fisgar
troquei de isca, peguei pedaços de peixe congelados
fui pro açude e lá vi no chão um pedaço de carne
dava bem uns 3 quilos e estava sem o osso no meio
muito estranho

foi o que imaginei
e acordei

pensei que os cães são como o símbolo do tao:
o cachorro grande amarelo e a pequena cadela amarela
a grande cadela preta e o cachorrinho preto

os pequenos me acordaram os grandes estavam no quintal


Deusa Neit

É a antiga deusa da caça, seu animal sagrado era o cão.
Neit era chamada "a que abre os caminhos".
A característica desta Deusa é a sua grande capacidade de análise, paciência e senso de organização.
As pessoas nascidas sob a sua proteção são muito práticas, cuidadosas e reparam nos mínimos detalhes, porque estão sempre atentas a tudo o que acontece.
Sabendo usar as suas qualidades positivamente alcançam o que consideram a sua maior felicidade, segurança e serenidade, mas sempre correm o risco de perder o equilíbrio por não saberem dar o justo valor a cada coisa.

quarta-feira, 17 de março de 2010

dragões e hárpias não se definem por palavras

acordei de madrugada
confundi a garrafa com água na escuridão
e quase dei um gole no álcool etílico, que cuspi
mas ainda ressecou meus lábios

de volta ao sonho, acordo dentro dele
a porta do quarto fechada, amanheceu
meu filho ali serelepeando perto

abro as portas e vejo águias
também uma revoada de urubus
uma gurizada zuadenta do lado de fora
em seguida passam dois dragões
um casal, são escuros e estão no alto
acredito serem hárpias

todo mundo vaza, desaparece
menos eu

o mestre dos magos
traz o macho para o solo
olho ele de perto, que entra no quarto
tenho receio mas não corro
ele tem movimentos calmos
aparentemente é quase dócil
fico olhando parado

o dragão veio até ali por algum motivo
o mestre o trouxe para eu vê-lo de perto
(além das mandingas dele, que desconheço)
também pra ver que são realmente dragões
por mais que eu acreditasse até então serem hárpias

dá pra identificar o macho e a fêmea
pois o macho tem uma parte branca nas costas
seguindo a coluna vertebral
a fêmea é mais arisca

ele volta a voar
a fêmea já está longe
leva meu sono
trazendo o despertar

isto aconteceu
se não me engano
em algum lugar da capital baiana
onde confundi o mictório
com a mesa do self service
que estava dentro da sala de aula
do curso de férias
eu ainda nem tinha acabado de mijar
tive que parar, pois voltaram do intervalo

jane ainda ficou brigando comigo
questionando como eu faço isso numa sala de aula
no intervalo do curso

penso agora que o mestre me fez ver
que confusões acontecem

e mijei só quando acordei
depois do gole de álcool

domingo, 7 de março de 2010

*

o mundo foi criado diversas vezes
contado de várias formas
em muitos tempos
por diferentes seres

em todos eles
foi assim

passou entre risos e choros
em muitas voltas
onde a risada e a boca se foram
até mesmo antes das lágrimas secarem

foi planejado
infinitamente

vivido de vários jeitos
até o máximo ou pouco mesmo
com ou sem razão de ser
os ciclos todos desapareceram

existindo
um eco crescendo

da solidão eminente de fim
aquele último momento que passando
acena quando a esquina dobra
e vai por aí

copos de vinho
secaram ou foram moídos

as cinzas são espalhadas
no mesmo movimento
dos sons acordados ou dormentes
quem lembra e já esqueceu

sábado, 27 de fevereiro de 2010

*

me sinto estranho
tenho mais palavras
que interlocutores

as conversas
parecem escassas

vou ficando nos
com licenças &
desculpas

dessa vida

motorista, abre a porta aí
por favor, quanto custa?

ninguém sabe
e nem quer saber

deitado

olhando pra frente
que é em cima
além da montanha
na brecha de céu
que me cabe
nesse universo
também cela dos viventes
tela por onde passamos
para além do vidro
nem sendo alma seria assim
vou me colocando
onde devo ficar ou pousar
de voos e pensamentos
na minha forma de procurar
assim desse jeito
vou aprendendo

um dia disse coisas
sobre dias nublados
sobre cantos com cestos
roupas e livros sobre a cama
um dia

*

aprendemos
com os acertos
e os erros
que nos acertam
sem erro
aprendemos

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

voluntário

não sou apenas uma adaptação
de um mesmo mundo
nem mesmo sou a cópia da paisagem
sob uma mesma ótica
tem mais
não sou nem planeta, nem sol nem lua
mas coexisto com eles & tudo
em igualdade de existência
dentro desse movimento
que vivemos

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

*

de volta ao rio
para banhos que banharei
além da água evaporada
com a qual certa vez
me lavei

chove
(quase o café queima)

sábado, 20 de fevereiro de 2010

sonho no quarto da velha

a galera de outro planeta quando pinta na terra não vem de longe, mas aparece perto. as duas meninas de babydoll entraram no quarto juntas. eu tento pegar o ferro de soldar antes de entrar também, mas um alien passa perto e me escondo na mata ciliar. intuo que o sonho está para acabar. por isso, preciso me concentrar e usar o pensamento plenamente antes que o dia amanheça ou os ácaros me devorem

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

*

depois da chuva
cantos molhados
que desviamos
em passos irregulares

pisadas bêbadas
cambaleando
zigue-zagues

depois da chuva
aguardamos uma forma de secar

só pra constar

quarta de cinzas
quinta de fênix
sexta & sétima
sustenido bemol

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

parede

dormindo acordado
com a cabeça pra lá
vendo pessoas passando
ondas no mar

molhando as coisas nas gavetas
mesmo enroladas
em ilusões de plástico
creme dental

vagando por aí
ou ficando onde está
sentada no chão
parede pra encostar

dormindo acordado
é tempo de mudar
permenecendo intactas
as ondas no mar

não sei se rindo ou repousando
olho 90 graus
enquanto saio pra lá da porta
e além da janela
e vem o sol

sábado, 13 de fevereiro de 2010

parque laje

o peso das borboletas
faz balançar a folha

som da outra
tocando o chão

ar pra respirar
esqueletos de folhas
sobre pedras sobre pedras

olho pra cima
chuveiro-árvore
chicote de três pontas
mate gelado escondido na árvore
rapé a pé
banho no alto e desço com a
água

*

cara, vi tuas lágrimas
mas não poderia
arrancar teus olhos
nem fechar os meus
deixe-a seguir
disse meu instinto
sabendo das partes
retiradas, colocadas
reorganizadas
e por isso, segui

*

vamos estamos somos
passando no plano
com idéias
acontecendo
nas ações da vida
temos uma percepção
de onde tudo começa
nessa trilha
a vida segmento de reta
sem vírgulas

*

as cores se abrem
com luz
vibram
em diferentes suores

você joga em mim
o antidesprezo
como uma pluma

renascendo a cada dia
no inverso do sol

brihando
refletindo

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

*

uns tomam lactopurga
outros vão de imosec

e há quem diga "que merda!"

cada qual tem uma filosofia
para a busca de um sentido

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

nascer

sair do banho quente
no inverno

buscar a toalha
é viver
pra se enxugar

às vezes
a toalha tá longe

é preciso deixá-la
o mais perto
ou sair do banho
e recomeçar

etc
ressuscitar

*

não estou atrasado nessa vida. cada qual conhece sua caminhada e sabe de onde vem, o tanto que andou de sua casa

aprendizados sobre a família, sobre a dedicação, compreensão, amizade, convívio com os semelhantes. aprendizado sobre a natureza e a importância de cada coisa, de cada lugar. valorizar a alma que me habita e cuidar do corpo que a abriga.

também não estou adiantado. sigo junto, para repartir com todos. tenho inúmeros desafios e vou tratando de solucioná-los um a um.

erro e acerto no caminho. aprendo com ambos. estou aqui para dar todo o meu amor em cada gesto, palavra e pensamento.

aprender

*

queima a vela
noite adentro
busca o dia
mesmo sem alcance
suas cinzas
trazem o sal da glória

o fogo
separa o corpo da alma

a decomposição
transfere um elemento para outro

a luz externa desaparece
mantém viva a luz interna

voa sobre o nada
além da chama que destrói

*

alma é
um olho de fogo
um espelho
que dissolve e suga a matéria

*

não estamos sós nesse mundo
tão alto e profundo céu
o brilho dos astros
resplandece a noite
quanto mais escura for
tanto maior é a certeza
do mais alto e o pequeno
em suas intangibilidades
que meus caminhos sejam de luz
e a força maior minha lanterna

amém

tô no rio 2010

liso e sem emprego
com fé e esperança
é o que tenho
pra seguir
ainda não sei como vou
se volto
tenho meu valor
aquilo que sou
e sons pra construir
enquanto não há flores
sou desacreditado
meus brotos não parecem árvores
não crescem da noite pro dia
ou melhor, crescem
independente de quem perceba
seguirei, sei que chegarei

*

o mar dissolve
as gotas
os nomes das praias
grãos de areia identificando
a correnteza
o ciclo lunar
calor do sol
amores que a vida trouxe
à margem

horizontes
novas manhãs
chuva, suor, sangue, lágrimas
ondas que batem
fazem o som do momento
a imagem, a foto
une os povos pela distância

sonho

um peixe num prato d'água
se debatendo
dois outros agonizam
deixo o cd, cai no chão
tudo bagunçado no galpão
muito lixo
o cara matou a pau, fugiu
pintou o cabelo de loiro
eu falo pra ele "é uma pena"
coloco os outros dois peixes
no mesmo prato
entro no carro
atravesso a ponte e acordo

*

faz calor
desastres na tv

estarei vivo?
toca o telefone
pergunto e respondo
continuo só

colorido, caro
cheio de gente
cada qual tem
um estilo diferente

vendaval, chuva
sacos no mar, no ar
pombos, gaivotas
macacos e mucuras

*

rio de janeiro

dia de são sebastião
três janelas
no outro prédio

quatro mulheres
três sofás

o comercial coincide
uma vai observar da janela
outra sai do campo de visão
a vela apaga
uso a lanterna do celular
seguro com os lábios

a cidade produz aceleração
& buzinas